Produtores rurais são estimulados a planejar ações com criatividade

Chico Lima e a crença inabalável pelo cacau
JBO/Mauricio Maron

O produtor rural Francisco Lima viveu o apogeu e a derrocada da lavoura cacaueira, na região Sul do estado. Foi numa propriedade da sua família que, em 1989, especialistas detectaram a chegada da vassoura-de-bruxa. A doença se espalhou, dizimou fazendas inteiras e levou a monocultura do cacau a enfrentar a maior crise de sua história. Chico Lima vivenciou o desafio de recomeçar praticamente do zero. Considerado um grande produtor, colhendo 38 mil arrobas de cacau por ano, ele agora tenta retomar a produção, com uma colheita ainda tímida e que não ultrapassa duas mil arrobas. “Não sei o que seria da fazenda ano passado, se não fosse a minha produção de cravo-da-índia. Ainda assim, acredito muito no cacau”.

Chico Lima integra o grupo de 20 produtores que participam do Projeto “Cacau Mais”, desenvolvido pela Federação da Agricultura do Estado da Bahia (Sistema Faeb) com apoio do Sebrae. “Trouxemos também produtores que estão envolvidos em outros projetos do Sebrae. Aqui é uma continuidade do caminho para a retomada da produção regional”, esclarece o analista Eduardo Benjamin Andrade. Um encontro do grupo foi realizado na terça-feira, dia 14, na sede do Sindicato Rural, em Ilhéus.

A missão é preparar o grupo para desenvolver atividades de cultivo, reciclando tratos e manejos. “É um projeto que incentiva o planejamento rural, criando ações estratégicas de controle dos custos de produção e oferecendo, durante dois anos, treinamento e qualificação de mão de obra para o campo”, explica o advogado do Sindicato Rural de Ilhéus e participante, Eduardo José de Araújo. Ele revelou que em uma primeira etapa, já concluída, foi feito um diagnóstico sobre as propriedades rurais envolvidas no projeto.

Agora é a fase de estudos de administração e planejamento. Ao longo deste ano, os produtores receberão 12 visitas técnicas nas propriedades.

Mais criatividade na escassez de recursos - Eduardo Araújo explica que o maior entrave vivido pelo produtor diz respeito à falta de recursos para investimentos na lavoura. “Daí a importância do estímulo à criatividade, já que esbarramos na falta de recursos”. O advogado administra uma fazenda de 60 hectares – metade com plantação de cacaueiros – na região de Banco Central, em Ilhéus.

Os estudos desenvolvidos até o momento apontam para uma baixa densidade na produção. O desafio é desenvolver em uma área de dois hectares – que conta hoje com mil plantas - uma técnica que aumente a produção. “A meta é a gente dobrar o número de plantas em um ano e depois ir, aos poucos, implementando o trabalho no resto da fazenda”.

Esta, por sinal, é a ideia central do projeto: vencer os obstáculos por etapa. “Não adianta a gente querer fazer tudo ao mesmo tempo. É preciso ver os resultados práticos do modelo adotado para, a partir daí, evoluir para uma etapa mais significativa. Além de mudar o comportamento empresarial do produtor, o projeto também muda a visão na forma de administrar. Sai de cena o produtor que fazia tudo de uma vez e entra o produtor mais cauteloso, com planejamento, sabendo quando pode e vai gastar”. Neste ano, por exemplo, Eduardo Araújo sabe que o investimento na fazenda ficará entre R$ 7 e R$ 8 mil.